Tempo Movimento, o sexto Diário Contemporâneo

O corte no tempo e no espaço efetuado pelo ato fotográfico iniciou uma era de profundas mudanças na produção de imagens e na construção de novos modos de representação. Entre as diversas experiências possibilitadas por meio da fotografia estão a suspensão do tempo e a fixação do instante. Fomo habituados a pensar que, diante de um acontecimento, no frescor do fluxo da vida, o ato fotográfico reage congelando o momento e “eternizando o instante”. Em certo sentido, tais constatações embrionárias foram naturalizadas e ainda permanecem vivas em nossa experiência cotidiana. No entanto, o campo da arte contribuiu para que essas primeiras percepções fossem desdobradas em camadas e construídas em procedimentos cada vez mais distintos.

O surgimento do cinema – fotografia fixa em movimento – veio expandir o sentido de tempo já potencializado pela fotografia e instaurou na imagem técnica suas capacidades narrativas. Na medida em que o cinema avançou, a fotografia foi buscar no exercício da série um alimento necessário, utilizando-se desse aspecto para narrar acontecimentos e ampliar a própria noção de realidade. Atualmente os processos digitais misturam cinema, vídeo e fotografia e trabalham a favor das narrativas pessoais, das pequenas histórias e ainda da reconfiguração descritiva da vivência social. Os artistas da imagem que trabalham imersos nesse contexto utilizam a fotografia como experiência de um tempo que dura. Os fotógrafos trabalham o vídeo como um processo desdobrado da experiência fotográfica cujo tempo não foi cortado somente uma vez; foi fatiado em séries, planos-sequência, polípticos. O movimento não é percebido somente no cinema ou no vídeo; está na aparente fixidez de imagens fotográficas montadas em blocos, conjuntos ou sequências.

O resultado dessa proposição está na exposição Tempo Movimento – VI Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia no Museu Casa das Onze Janelas em Belém até o final de junho. A mostra é um recorte da proposição e, de certo modo, transborda as ideias propostas no edital porque insere no espaço expositivo tanto os objetos, como as performances e os processos abstratos vindos da tecnologia. Os premiados dessa edição resumem em parte o que se vê sobre as ramificações do movimento e da mobilidade.

Marise Maués, no performance intitulada Loess, se transmuda em próprio sedimento quando testa seu corpo imóvel durante sete horas ininterruptas no leito de um igarapé nas correntezas de sua enchente e vazante. O sentido de permanência rígida contrasta com o passar do tempo, da luz, da cor e das mudanças do ser. O que se vê é uma fotografia que se move e um filme a captar em sua resistência estática a transitoriedade das coisas.

Dirceu Maués, com Horizonte reverso, brinca uma vez mais com a imaterialidade da imagem cuja fotografia ausente da câmera obscura é a chave para a interação no espaço expositivo tanto com a dimensão escultórica do aparato multiplicado em vária janelas quanto o caráter imaginativo da fotografia antes de sua invenção.

Por fim, Marco A. F propõe com That crazy feeling in America, um exercício com imagens e legendas extraídas de filmes em preto e branco para construir como, ele mesmo nomeia, uma roadtrip fictícia a partir do imaginário norte-americano do cinema e dos livros de Robert Frank. Nessa nova trama, os elementos desgarrados de sua origem: imagem em movimento, frases e diálogos se reorganizam em outra dinâmica, movidos pela “fixidez” fotográfica.

Os trabalhos de Marco A.F, Dirceu Maués e Marise Maués estabelecem juntamente com os todos os artistas reunidos nessa mostra as dinâmicas de mobilidade da imagem, seja ela fixa ou em movimento, seja congelando ou expandindo a ideia de tempo.

Premiados:
Marise Maués – Prêmio Diário Contemporâneo
Dirceu Maués – Prêmio Diário do Pará
Marco A. F. – Prêmio Tempo Movimento

Selecionados: Andrea D’Amato; Carolina Krieger; Daniela de Moraes; Edu Monteiro; Elaine Pessoa; Felipe Ferreira; Gui Mohallem; Guy Veloso; Isis Gasparini; José Diniz; Solon Ribeiro; Júlia Milward; Karina Zen; Lara Ovídio; Marcelo Costa; Marcílio Costa; Pedro Cunha; Pedro Veneroso; Pio Figueiroa; Sergio Carvalho de Santana; Tiago Coelho; Tom Lisboa; Tuca Vieira; Victor Saverio.

fonte: http://www.dobrasvisuais.com.br/